Meu objetivo na Alemanha desde a primeira vinda como estudante-pesquisadora é: carreira. Quero exercer minha carreira de uma maneira que eu me sinta satisfeita e útil. Quero fazer a diferença e passar pra frente o meu conhecimento. Quero aprender e ensinar. Quero ajudar. Quero ter meu dinheiro, meu amor próprio e minha dignidade sempre comigo. Aprecio os sonhos, a felicidade e a objetividade no dia-a-dia. Vide: Trajetória universitária, profissional e a Alemanha.
Nesse ano me casei por amor com um homem que me ama como eu sou e que respeita o que quero pra minha vida – exatamente como descrito acima. Um homem que não impõe sua cultura sobre a minha, um homem alemão que se dedica toda semana desde que nos conhecemos a aprender português, a entender minha cultura. Meu marido me acorda com beijos e me ensina a dirigir como se o patriarcalismo nunca tivesse existido. Esse homem sempre entendeu que meu objetivo como imigrante é o aprendizado e a independência. Sou curiosa, busco meu desenvolvimento e nunca estaria ao lado de pessoa nenhuma que me atrapalhasse subjugando-me e impondo-se sobre os meus sonhos e a minha cultura.
Se eu aprendi alemão, você aprende português. Se eu estou a morar temporariamente na sua terra, já digo logo que eu também quero viver com você por um tempo na minha terra. Você também tem que conhecer a minha família, a minha cultura e, assim, propomo-nos a tentar entender o outro todos os dias. Nothing, but fair. Essa foi nossa primeira conversa para, então, iniciarmos o namoro e oficialmente eu me daria ao luxo de acreditar num amor eterno. Essas eram as minhas condições para eu me deixar amá-lo. Além disso, me propus há alguns anos a namorar apenas quando eu tivesse certeza de que eu não veria o fim do relacionamento. Por que começar já tendo certeza que não dá certo e que um dia certamente chegará ao fim? Não invisto no que não acredito.
Todo desentendimento que temos é resolvido na base do pare, respire, pense, vamos conversar. No final é sempre devido a alguma diferença cultural. A base de todos os nossos desentendimentos até hoje veio da raiz chamada criação em outro país. Nunca devido a alguma falta de caráter ou desinteresse. Esse é o desafio de todos os dias, mas que devido ao convívio aprendemos que, na verdade, isso não nos desafia, mas nos fortalece, pois a visão do outro passa a ser sempre considerada em cada caso.
Eu: “por que você está de moletom, jaqueta e jeans dentro de casa? Aqui está quente! Coloque uma roupa de ficar em casa – conceito desconhecido por ele até então.” Ele: “por que você está de chinelo, short e sem blusa de frio? Você está gelada!” Ele não sente direito a mudança de temperatura do frio para o quente quando chega em casa. Eu não sinto quando o frio chega pra dentro de casa e ainda reluto para não ter que vestir meia-calça.
Aprendi a tomar chá – a mãe dele é inglesa. Ele aprendeu a comer e a cozinhar arroz. Eu aprendi a tomar banho usando sabonete líquido. Ele tentou usar sabonete em barra no Brasil, sem reclamar. Ele e eu somos curiosos e tentamos ser pacientes, apesar das frases: “de novo batata?” “de novo arroz?”. É obvio quem falou cada frase.
Ele não consegue mesmo dobrar uma blusa que se preze de uma maneira que não pareça estar simplesmente amarrotando a mesma. Eu não consigo guardar a minha roupa no armário depois da lavagem e secagem. Simplesmente ela fica lá no varal. Um ajuda o outro nas fraquezas. “Você está de castigo no quarto até guardar essa roupa no armário.” “Você está de castigo no quarto até arrumar essas roupas mal dobradas do seu armário”. Pronto! Porque o limite entra em ação quando o outro tenta abusar. Nenhum folga pra cima do outro. Tudo é conversado e ninguém aqui tem a obrigação de alimentar e banhar o outro. Somos dois adultos dividindo o mesmo espaço.
Se eu fiz comida pra ele, não era a minha obrigação, se ele me trouxe o café da manhã na cama, não era a obrigação dele. As coisas ficam pesadas quando ganham a conotação de obrigação dentro de um relacionamento. As coisas são simplesmente feitas por prazer ou divididas democraticamente. “Quem vai limpar o chão, lavar o banheiro, arrumar a cozinha e arrumar o quarto?” “Eu arrumo a cozinha e lavo o banheiro” – diz ele. “Eu prefiro mesmo limpar o chão e arrumar o quarto.” – digo eu. Na prática se um não quer limpar, mas o outro está com a alma do dia da limpeza e não consegue mais adiar esse sentimento, então o outro não tem alternativa: tem que limpar também. Ao mesmo tempo a limpeza é rápida e eficiente e depois vem o sentimento de cansaço e dever cumprido. Agora podemos ver um filme juntinhos.
Porque uma coisa eu aprendi. Viver sozinha em casa é muito bom, mas viver a dois (dessa forma) é mais fácil. Acrescento ainda que o casal deve se olhar na mesma altura, se apoiar e se motivar constantemente, porque, realmente, motivar-se sozinho é muito mais difícil.
Foto: Isabela Campos Photography – www.isabelacampos.com

Nem preciso dizer q gostei do post e me lembrou uma conversa bem recente rs…. um relacionamento é uma troca e fico feliz quando vejo que outros casais também se respeitam e conversam “auf gleicher Augenhöhe” 🙂
Pq ninguém é menos que ninguém….
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Curiosamente nessa semana esse assunto de relacionamento bicultural veio com força como assunto de conversas com 3 amigas diferentes! Ontem foi uma beleza nosso encontro Lí! Adorei! Vamos marcar uma mandioca com carne desfiada feita por mim e uma sopa de abóbora feita pelo Thomas. Beijão!
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Que bacana prima!! Adorei ler seu post, muito bonito seu relacionamento… A sintonia de vocês transparece nas fotos!
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😀 😀 😀 Obrigadíssima prima!!! Beijão :*
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Perfeito sua conotação. Acho que se enquadra em QQ tipo de relacionamento, ainda mais nos biculturais. Sou casada há 8 anos e meu dia a dia é exatamente assim. Parceiro! Eu não tenho apenas um marido e sim um amigo e companheiro, que divide comigo tudo, tudo mesmo, do mais chato ao mais legal dos prazeres de sermos casados.
Batalhamos nossos sonhos juntos. Eu não tenho sonho, vivemos o mesmo sonho.
Hj eu sou farmacêutica pq era o sonho dele e hj sou feliz por ter realizado essa vontade dele e atraves disso o incentivei a fazer TB a faculdade e hj ele está prestes a se formar, coisa que ele nunca imaginaria q faria um dia.
E assim são nossos dias, eu vivendo os sonhos dele e ele os meus e a vida vai se passando leve.
Parabéns mais uma vez. Sigo seus posts e a acho uma pessoa correta e batalhadora, merecedora de tudo q vem conquistando!!!
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Grande Monique! Sim, num relacionamento é uma bênção ter alguém compreensível, amigo e companheiro. Não é sempre que duas pessoas se dão tão bem e agradeço muito por tê-lo encontrado e ele ter acreditado que seríamos felizes juntos desde a primeira vez que me viu (segundo o que ouvi no pedido de casamento). A batalha junto ao outro é menos pesada e um incentiva o outro. Se eu estivesse sozinha seria bom também, mas com ele é uma maravilha. (Os chato de plantão vão falar que é porque somos recém-casados.)
Obrigada pelo apoio no blog e parabéns por todo o apoio que tem dado ao seu marido quanto ao curso de Farmácia! É um curso phoda mesmo. Ô, como eu sei.
Um abração em vocês,
Quel
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Raquel,ainda nao conheco o Tomas mas ja gosto dele .Gosto porque voce o escolheu.E a escolha me parece tao sensata porque voce se tornou uma adulta tao linda, por dentro e por fora…..Fico muito orgulhosa de ter contribuido um pouquinho para a sua formacao.Parabens
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Obrigada Márcia!
Que lindo comentário. Eu te agradeço por todo o apoio que me deu nos tempos do inglês e que ainda tem me dado, mesmo depois da minha mudança de cidade e depois de pais. Eu aprecio e ainda me lembro das suas recomendações e dicas sobre viver fora e namorar estrangeiro. Sei o quanto vc se preocupa e aprendi bastante com vc a me precaver e a me defender no exterior, além de ter aprendido com vc o inglês de uma maneira tão bacana e eficiente.
Um Beijão,
Quel
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Gostei muito do artigo e da espreitada em sua relação. Só me incomodou um pouco a impressão (!) de haver muitos “tem que”… O perigo do “ter que” (=regra/necessidade/obrigação) é o de acabar/dificultar a naturalidade e a espontaneidade, mas, como dito, trata-se somente de uma IMPRESSÃO passada pelo texto!
Parece mesmo que o assunto “relacionamentos binacionais” (ou biculturais – se bem que isso é outra coisa – um relacionamento de alguém de Berlim com alguém da Baviera é também um relacionamento bicultural 😉 ). Eu mesmo estou escrevendo um texto sobre o assunto.
Parabéns e continue escrevendo, pois você aborda temas importantes, como este aqui 😉
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Oi Gustl! Obrigada!
Realmente, escrever envolve impressões e é muito mais fácil para mim fazer vídeos do que textos. Eu sei bem quanta confusão um texto ou comentário pode causar devido a ausência de intonação, de olhar nos olhos de quem diz, de ser difícil perceber ironia ou tom de voz. Porém, todos os “tem e deve” do texto vem de uma mulher séria que não blefa. “Tem que aprender português, tem que conhecer minha cultura e minha família, não tenho que te alimentar, você tem que limpar tbm sim e você deve me olhar na mesma altura”. I am a strict woman, babe. Não me admiro por praticamente só mulheres terem gostado, compartilhado e comentado esse texto, tirando vc, meu marido e uma amigo da uni que sempre está a agradecer a mãe e as irmãs no Facebook.
Eu achei a palavra bicultural mais bonita e mais envolvente do que mencionar nação (binacional). Falo de cultura e mesmo se ele fosse de outro estado do Brasil eu escreveria o mesmo texto, tirando o fato que ele já falaria português, porém teria que aceitar meu sotaque sem querer me mudar. (Já recebi críticas e elogios sobre o meu sotaque no vlog e quem não gosta ou quer que eu mude o jeito de falar que vá assistir outro canal).
To esperando seu texto então!
Um Beijão e obrigada! 🙂 :*
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Acabei de Achar o seu site, quase pesei que suas palavras fossem as minhas, me identifiquei tantoooo 🙂 além disso sou farmacêutica e moro na Alemanha com meu marido ( mas ele e holandes)!!! Beijos querida, mto prazer 😊😊😊😊
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Olha só Lígia! Que legal! Curta minha page no Facebook pra gnt trocar msg. Eu conheço uns 7 farmacêuticos brasileiros aqui trabalhando ou procurando trabalho. Um prazer te conhecer tbm! Bjaaaao
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